Por que o Preço do Café Pode Chegar a R$ 60 o Quilo e o que Esperar nos Próximos Meses

A possibilidade de o café chegar a custar R$ 60 por quilo nos supermercados brasileiros não é mais apenas um boato; especialistas do setor já veem cenários concretos que apontam para esse patamar de preço. Segundo a cooperativa Minasul, de Varginha (MG), fatores como o clima instável e a crescente demanda por café estão pressionando a oferta e fazendo o valor do produto disparar. Esse aumento não afeta apenas o café “tradicional”, mas também o segmento de cafés especiais, que depende de práticas de cultivo ainda mais rigorosas. Neste artigo, analisamos as principais razões para essa elevação nos custos, trazendo dados recentes que mostram como a safra reduzida, o crescimento do consumo — sobretudo entre os jovens — e até questões geopolíticas ajudam a explicar esse panorama.

Clima Instável e Produção em Queda
O Brasil, maior produtor mundial de café, e o Vietnã, segundo colocado no ranking global, vêm enfrentando problemas de produtividade causados por condições climáticas adversas. Desde 2021, secas prolongadas, chuvas intensas em períodos inadequados e a ameaça de geadas prejudicaram a floração e o desenvolvimento dos grãos, tanto de arábica quanto de conilon. Esses eventos reduzem a safra e criam um desequilíbrio entre oferta e demanda. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção brasileira pode registrar queda de 4,4% em 2025, resultando em 51,8 milhões de sacas, ao passo que o Vietnã também não prevê recuperação de safra no curto prazo. Em suma, quando há menos grãos disponíveis, os preços sobem, e isso impacta diretamente o valor no varejo.

Demanda em Crescimento, Especialmente entre os Jovens
Enquanto a oferta diminui, a procura por café continua em alta. Um dos impulsionadores desse crescimento é o público mais jovem, que passou a ver o café não apenas como um hábito familiar, mas também como fonte de bem-estar, saúde e desempenho físico. Para esse novo consumidor, o café tornou-se um item de interesse e aprendizado constante, seja por meio de comunidades que discutem diferentes tipos de torra e métodos de preparo, seja pelo reconhecimento de propriedades funcionais, como o uso da bebida como pré-treino. Essa tendência se reflete nos dados de consumo interno no Brasil, que atingiu 21,7 milhões de sacas em 2023, consolidando o país na segunda posição do ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos.

Rastreabilidade e Sustentabilidade como Diferenciais
Não é só a ideia de um café saboroso que atrai esses novos consumidores; práticas de produção sustentável, rastreabilidade e origem dos grãos ganharam destaque. Hoje, muitos apreciadores querem saber em que região o café foi cultivado, qual é a variedade do grão e como ele foi beneficiado. Esse aumento de conhecimento e exigência agrega valor ao produto, elevando ainda mais seu preço final. Cafés especiais, que já contam com processos cuidadosos de colheita e seleção, tornam-se ainda mais cobiçados quando associados a práticas ambientais e sociais responsáveis.

Custos de Produção e Questões Geopolíticas
As dificuldades de produção não se resumem ao clima. O custo de insumos, como fertilizantes e defensivos, aumentou devido a conflitos internacionais e à alta demanda global por esses produtos. Além disso, fatores geopolíticos podem influenciar diretamente as cotações. Na Colômbia, terceiro maior produtor de café, a possibilidade de elevação de tarifas de importação pelos Estados Unidos gerou especulações no mercado, fazendo o preço da saca disparar em bolsas como Nova York e Londres. Embora os EUA tenham recuado dessa intenção, a simples menção de medidas protecionistas já causa nervosismo nos mercados e pode pressionar os preços para cima.

Efeitos no Bolso do Consumidor
Por todos esses motivos, o aumento no valor do grão afeta diretamente o café em pó, o popular “cafezinho” do dia a dia, e não há mecanismos de mercado que consigam impedir esse repasse. O café foi um dos principais itens responsáveis pela inflação de 6,02% nos supermercados de São Paulo em 2024, segundo a Associação Paulista de Supermercados (APAS). Especialistas apontam que a tendência é de novas altas, pelo menos até que haja sinais de recuperação de safra. Caso ocorra uma geada severa no inverno brasileiro, alguns analistas acreditam que o preço do quilo poderia chegar a R$ 100, reiterando a fragilidade da cadeia diante de intempéries climáticas.

Perspectivas para 2025
No curto prazo, não há expectativa de redução nos preços. Com a oferta comprometida e uma demanda que continua em expansão, o mercado se mantém pressionado. Mesmo as eventuais importações não oferecem alternativa viável, pois os custos logísticos e as condições de mercado internacional também encarecem o produto. A esperança de muitos analistas recai sobre uma safra 2025/2026 mais favorável, sem eventos climáticos extremos. A normalização do clima e a resolução de impasses geopolíticos poderiam segurar a cotação do café, mas essas variáveis seguem sendo incertas.

Conclusão
O aumento no preço do café, tanto tradicional quanto especial, resulta de uma soma de fatores que inclui clima adverso, custos de produção crescentes, demanda aquecida (principalmente entre consumidores jovens), questões geopolíticas e logística global complexa. Além de afetar diretamente o bolso do consumidor, esse cenário exige estratégias de adaptação de produtores, cooperativas e torrefadoras. Na Arabá, mantemos nosso compromisso de buscar origens confiáveis e processos de qualidade para oferecer cafés que, mesmo em meio às flutuações de mercado, mantenham suas características únicas e seu valor intrínseco. Enquanto não há uma solução simples para conter essa alta, os apreciadores de café seguem atentos às mudanças no cenário e torcendo por condições mais favoráveis, tanto no campo quanto no mercado global.